Estava ensaiando escrever esta resenha a algum tempo – desde que eu li o livro. Meus planos eram de só fazê-lo quando eu já tivesse lido o segundo livro (sou um saco para finais, não importa o qual bom seja o enredo do livro, se o final me decepcionar tudo vai por água a baixo). Acontece que o segundo livro ainda não saiu e eu estou a algum tempo sem escrever para o blog, então estou juntando útil ao agradável.
Tomei
conhecimento do livro dentro do próprio Bruxaria Hipster, uma postagem contendo
um trecho do livro, fui à página fonte e lá li outros trechos. Chamou minha
atenção, comprei, li e gostei.
Esta
é uma publicação independente, então tudo – capa, formatação, edição e revisão
– vieram do esforço do autor, Enrique Coimbra. Pelo livro descobri também seu site
Discípulos de Peter Pan e também me apaixonei. Mas voltando ao livro....
Estou
sempre em busca de novos títulos no nosso meio. Eu sinto MUITA falta de bons
romances tendo o ocultismo como tema – ênfase nas palavras “bons” e “ocultismo”.
Claro, há ótimos livros de fantasia, mas poucos dão uma pegada de abordar uma
magia mais próxima do real, com ‘exageros aceitáveis’ como eu gosto de dizer.
Quando temos um romance sobre bruxaria ele costuma seguir quase sempre o mesmo
roteiro: um adolescente (geralmente uma menina) se descobre uma bruxa por meio
de linhagem sanguínea, ela descobre poderes especiais que mudam a já harmoniosa
vida dela, então ela lutará com um vilão usuário de poderes sóbrios.
Não é o caso de Hereges de Santa Cruz.
Não é o caso de Hereges de Santa Cruz.
Sim,
os protagonistas são adolescentes, mas não há nada de especiais neles, muito
pelo contrário. Eles não lutam contra forças das trevas, pois eles mesmos as
usam. Eles não se descobrem dotados de poderes especiais, a magia não é um
bônus, para eles magia é a única saída, a única chance que eles têm de melhorar
a vida de merda que tem.
Já
aviso, esse não é um livro para todos, está longe de ser como os livros
adolescentes que fazem sucesso por ai. Este é um livro denso...como o Sheol. Enrique mostra que fez seu dever
de casa, em seus rituais ele dá detalhes grotescos e cruéis e deixa mais do que
claro com que tipo de magia os Hereges estão se metendo. Uma resposta logica
para combater o tipo de crueldades que eles mesmos sofrem.
Sem
dar spoilers, a estória se desenvolve quando Écio, Guido e Thaísa encontram A
Caravana, motoqueiros dispostos a compartilhar com os três o segredo da
imortalidade. Aqui eu tive um pouco de medo do livro cair no clichê de sempre –
comercio de almas – livros, filmes e séries, se tem um personagem imortal e ele
lida com magia, pronto, vendeu a alma para o demônio. Qualquer um que tenha
estudado minimamente ocultismo sabe que vender a alma, absolutamente, não é
possível. Como eu disse, o autor fez seu dever de casa e nos deu uma
alternativa muito interessante, seu conceito do que é um demônio e como o pacto
é realizado me convenceu.
Uma
vez dotados de poderes reais, uma vez que são capazes de se vingar de todos
aqueles que pisaram neles, uma vez que poderiam finalmente dar as costas para o
mundo e compartilhar a imortalidade juntos...bem, é ai que tudo começa a cair
por terra. Como eu já disse não temos uma distinção clara de certo e errado,
bem e mal, não há vilões além deles mesmos, e para mim os personagens são o ponto
alto do enredo. Você consegue se identificar um pouco com cada um deles, pode
amar todos e paginas a frente odiar todos, amar a amizade deles e ao mesmo
tempo ver as falhas daquele grupo.
Estórias
onde a amizade é ponto principal mexem comigo, eu me vi sofrendo quando eu vi a
deles se despedaçar por erros cometidos por ninguém além deles mesmos. Enrique
faz bem seu trabalho ao pôr os pontos de cada um, não há um errado, todos têm
partes nas falhas. O “líder” que não percebe a própria arrogância, que prefere
a amizade de um morto em detrimento aqueles que estão próximos a si só por ser
mais fácil. O outro é a própria essência do poder e talento desperdiçados, o
cético que nega o que está bem na sua frente simplesmente para não ter que
arriscar, aquele que prefere mendigar um amor forçado em vez de permanecer ao
lado de seus iguais. E claro, o estereótipo de quem diz a si própria que é
melhor que os outros, e acredita, incapaz de vez a mediocridade de suas ações
pois está ocupada demais tentando parecer o que não é.
Mas
já estou falando demais. Eu curti o livro, me tornei fã do trabalho do Enrique
e estou no aguardo da segunda parte bem como de qualquer outro livro que ele
lançar. Se você se interessou pelo livro e quer adquirir uma exemplar, basta clicar na imagem abaixo (está realmente muito barato)
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HEKATOR (Thiago Souza) estudante de arquitetura e urbanismo na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Me identifico como pagão e bruxo. Não espere que eu numero títulos e iniciações, sou, e sempre serei, apenas um mero estudante. Adoro o tarô. Sou absurdamente frustrado no campo da projeção astral. Me irrito com facilidade quando vejo esquisotéricos palestrando suas besteiras.Cultuo unicamente o panteão grego, mas sou apaixonado por todo tipo de mitologia pagã. Até gostaria de falar mais sobre, mas sou absurdamente péssimo em me definir e me descrever.
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