Spring Nymphs por Emily Balivet |
Antes
de mais nada é interessante dizer que esse texto foi dividido em duas partes. A
primeira parte fala sobre os significados e simbolismos da primavera e porque
trazer ela para o nosso dia-a-dia, e o segundo fala como traze-la para o nosso
lar e corpo para desfrutar do seu equilibrio e fertilidade.
A
temporada das flores
Deixe
a estação entrar
Sempre tive uma dúvida muito
profunda sobre o que nos separou dos animais e que nos fez parar de subir em
árvore para caçar comida e nos proteger, começando a nos reunir em bando. O que
nos fez parar de grunhir e começar a falar, a desenvolver escrita e toda uma
atmosfera a parte da natureza. O que nos deu o título de Homo sapiens?
Que olho ou mão armaria tua feroz simetria?*
Claro que para isso não existe
uma resposta única, mas é sabido que um dos acontecimentos mais marcantes para essa
separação humana do mundo dos animais foi a descoberta do fogo e domínio do
fogo, que nos uniu em torno de uma fogueira há 500 mil anos atrás em busca de
proteção. Essa fogueira também servia para cozinhar os alimentos, e a partir
desse primeiro momento de socialização da espécie humana foi criado um dos rituais
mais antigos: O comer.
Se procurarmos no dicionário
uma das definições de ritual é: conjunto das regras socialmente estabelecidas que devem ser observadas em qualquer ato solene; cerimonial.
Parafraseando Laurie Cabot em
seu livro “O poder da bruxa“, o homem desde épocas memoráveis celebra as
mudanças de estação, não que elas precisem da nossa comemoração para existir,
mas para simbolizar que ao mesmo tempo que o mundo muda por fora, nós como
parte dele mudamos por dentro.
O homem não entende o mundo
por fatos, mas sim por símbolos e rituais que são traduzidos pelo nosso cérebro
e forma uma complexa comunicação. Porque gostamos de alimentos quentes? Porque
quando damos festas sempre usamos comida? Porque chamamos os amigos pra beber?
Porque tomamos banho todos os dias? Porque beijos, abraçamos, transamos? Porque
tudo isso é ritual e é símbolo de conexão não apenas com o outro, mas com todo
o universo ao redor.
Comemorar a primavera não é
dar uma balada em com o nome enorme “ bem vindo primavera “ (TAMBÉM PODE SER, e se você
quiser pode dar e me convidar porque adoro). Comemorar a primavera é chamar ela
para dentro de você, para dentro de sua casa. É chamar para a sua vida o
equilíbrio, a fertilidade, o amor e a beleza destes momentos.
Primavera, Equilibrio, Renascimento, Fertilidade
VIDA
Clyte, Frederich Leighton |
A primavera é carregada de símbolos de fertilidade e abundância, e para trazer ela para o nosso dia-a-dia precisamos entender o que ela é e como funciona o arquétipo (se não sabe o que é arquétipo clique aqui) de roda do ano.
Diferente dos cristãos que falam um ponto de partida (morte de cristo) até hoje como dois mil e dezesseis anos, as culturas voltadas a natureza entendem o ano como algo cíclico assim como a vida em si: Todos nós nascemos, crescemos, reproduzimos, envelhecemos e morremos para podermos renascer. Isso é aplicado a absolutamente tudo, ao ano, aos séculos, às eras e até mesmo às próprias divindades.
Para fins didáticos vamos começar a explicar pelo "final". Na roda o Deus-sol
em ato de proteção doa sua energia vital no outono (30 de abril) o que causa a
sua “morte”, tornando os ares mais frios e as plantas menos frutíferas até a
chegada do Solstício de inverno (21 de julho), onde a noite é maior que o dia,
simbolizando o momento de parto da deusa e o renascimento do deus-sol. A partir
desse momento, a noite chegou ao ápice e aos poucos o dia fica maior, a
escuridão sede a luz, a esperança crescer no coração do homem, a vida ganha
vagarosamente da morte.
Já o equinócio de primavera
(22 de setembro) é a consolidação do deus-sol, a volta dele para o mundo dos
vivos como um garoto jovem e a sua união com a grande deusa que resulta na
fertilidade da terra. O equinócio é o momento em que a noite e o dia possuem
perfeito equilíbrio, tendo quase exatamente a mesma duração.
No norte da Europa
existe uma uma deusa germanica que trazia a primavera e o seu nome era
Eostre (Que possivelmente originou a palavra Páscoa em inglês - Easter). Essa deusa ao ouvir as suplicas de um pássaro
ferido o transformou em lebre que ainda podia botar ovos e como forma de
agradecimento decorou os ovos ofertando a deusa, e dai vem os ovos de pascoa
(Lembrando que a primavera no norte do mundo começa no dia 21 de março).
O retorno de Persefone. Frederich Leighton, 1891 |
Pelos mitos podemos ver os
símbolos que permeiam a primavera, tendo o primeiro (de Eostre) o símbolo do
Coelho como reprodutor e o Ovo como símbolo do renascimento. Já no mito de Kore
vemos a primavera como uma transformação tanto de sua mãe que abandona o seu
período de luto pela filha sequestrada, quanto na filha que decide não mais ser
Kore, não mais ser vitima do destino, renascendo como rainha do mundo de baixo.
Primavera é um momento para
equilibrar sua vida e deixar florescer o que você tem dentro de si. Prepare sua
casa para a primavera, prepare seu corpo para a primavera, prepare seu espirito
para a primavera.
Não perca nosso próximo texto que sai semana que vem! Grande abraço :)
Não perca nosso próximo texto que sai semana que vem! Grande abraço :)
(*) Poema de William Blake: O
Tigre
BOURDIEU, Pierre. O poder
simbólico. 1989.
BULFINCH, Thomas. O livro de
ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis. Agir Editora, 2014.
CABOT, Laurie. O poder da
bruxa. 1991.
CUSACK, Carole. The goddess Eostre: Bede's text and contemporary Pagan
tradition (s). The Pomegranate: The International Journal of Pagan Studies, v.
9, n. 1, p. 22, 2007.
FLANDRIN, Jean-Louis;
MONTANARI, Massimo; DA GRAÇA PINHÃO, Maria. História da alimentação. 1998.
+ Confira outros posts do Heustam
HEUSTAM (Lucas Oliveira) Nutricionista e pagão, Heustam acredita que a ordem gera o caos, e por consequência o caos gera a ordem. Ama o fogo e como ele, gosta de consumir tudo ate o fim. Gosta de coisas tribais, dança, movimento corporal.
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