segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Dualidades - Parte 1: Wood, Steel, Saruman and Nuada

Por Hekator

"A teoria de Gaia obriga a uma perspectiva planetária. O que interessa é a saúde do planeta, e não apenas e de algumas espécies individuais de organismos. É aqui que Gaia se afasta dos movimentos de defesa do meio ambiente, os quais se preocupam primeiro com a saúde das pessoas"
James Lovelock





Príncipe Nuada, Lança de Prata, filho de Ballor, o Rei de Apenas um Braço. Uma clara referência ao deus Nuada, Mão de Prata, bem como de Lugh e sua lança mística – um dos tesouro dos Tuatha.

O filme - Hellboy 2: O Exército Dourado - está longe de ser perfeito, mas é divertido. Um demônio que luta por uma humanidade que o despreza e um vilão com atitudes “carismáticas” que enfrenta a resistência de sua própria família. Dificilmente não nos identificamos com o príncipe exilado que quer para sua espécie a gloria de outrora bem como destruir os egoístas e vazios humanos.
Nuada e Nuala
Nuada deseja acordar o Exército Dourado para então exterminar de ver a raça humana, e aqui nos deparamos com a primeira dualidade. O exército, feito para o Povo da Floresta tem um desenho totalmente mecânico, um gigantesco maquinário semelhante aos da Primeira Revolução Industrial. Inorgânico, mecânico, metálico, e talvez por isso tenha despertado o desprezo do próprio rei Ballor. O tipo de arma ideal para o exército dos homens, mas abominável ao povo das fadas.
O próprio rei Ballor diz que “é da natureza deles esquecer, e é da nossa honrar o pacto”.



Em Senhor dos Anéis,
Saruman, O Branco, agora, O de Muitas Cores, escolheu o pensamento industrial em detrimento de seus antigos deveres. No filme, Barbarvore diz que Saruman já se preocupou com as arvores e os bosques mas agora só se preocupa com a guerra.

“Sempre há fumaça subindo de Isengard... Houve um tempo em que Saruman entraria em meu bosque. Mas agora ele só pensa em metal e rodas. Ele não mais gosta de coisas que crescem”
Barbarvore - Senhor dos Anéis: Duas Torres

Saruman optou pelo pensamento racional do elemento ar, em Isengard sempre sobe uma fumaça escura do fogo das fornalhas que trabalham o metal das armas e armaduras. Do outro lado temos os Ents, os pastores da floresta. Ligados à terra e aos riachos.
Fogo e ar contra água e terra, elementos opostos em lados opostos. Saruman dominando o metal, elemento frio e inorgânico, os Ents, da madeira viva e orgânica. Saruman ordenou que se queimasse a Floresta de Fangorn para alimentar suas chances de vitória, e foi pelas forças da natureza que ele foi derrotado. 

“O mundo antigo irá queimar sob o fogo da indústria. Florestas cairão. Uma nova ordem nascerá. Nós guiaremos a máquina de guerra com a espada e a lança e os punhos de ferro dos Orcs”
Saruman - LOTR: Duas Torres

A Hipótese de Gaia


"Raymond Lindeman faz a ciência da ecologia dar um dos mais importantes saltos de sua historia em 1942" [¹], pois ele propõe uma análise ampliada dos sistemas, onde para se entender um ecossistema, não devemos separar sua comunidade biótica de seus fatores abióticos, pois ambos são aspectos de uma mesma realidade.

Já no inicio da década de 1970, o livro de James Lovelock, Gaia: a New Look at Life on Earth (Gaia: Uma Nova Visão da Vida na Terra), nos deu uma visão ecossistêmica em uma escala planetária.

"A hipótese de Lovelock considera o Planeta Terra (Gaia) um gisgantesco ser vivo inteligente, do qual o gênero humano participa como simples células de um de seus tecidos. Para Lovelock, Gaia cria, mantém, altera e transforma o seu ambiente" [¹]
Pg. 99

Esta hipótese sustentou uma série de desdobramentos na ciência, na arte e nas comunicações. Teorias surgiram dizendo que se o ser humano souber utilizar sabiamente seu potencial intelectual, poderá futuramente assumir o controle de Gaia.
Um tema polêmico que pode representar a ruptura do pensamento iluminista para um novo paradigma
Gaia - Mãe-Terra
holístico.
Aqui, estamos diante de uma nova abordagem onde todos os elementos, incluindo a sociedade humana, interagem em em uma gigantesca rede de relações. Se na Hipótese de Gaia somos como células no corpo da Mãe-Terra, podemos sim agir como um câncer para o planeta.
A ecologia não mais separa o objeto de estudo, mas considera as interações no sistema em que ele se encontra, formado não só por seus elementos, mas, principalmente, por suas relações.

Até certa época, como parecia nos tempos de Darwin e Augusto Comte, parecia justo que as sociedades humanas se relacionassem nos conformes da seleção natural das especies, no qual tudo era dado aos mais aptos em detrimento nos menos adaptados. Um pensamento muito conveniente paras as necessidades de dominação da Revolução Industrial.
Quando tomamos conscientização de que os recursos naturais não são inesgotáveis, muitos ecólogos assumiram uma vertente "antiprodutivista", condenando tanto o capitalismo quanto o socialismo por terem os mesmos vícios: o crescimento econômico a qualquer preço.

A Temperança - Tarô de Waite
Devorar os recursos naturais para crescer economicamente, ou ser totalmente antiprodutivista, nenhum dos extremos de fato funciona.
Chegamos à um nível tecnológico onde a "cooperação total" é possível, onde não precisamos escolher nenhum dos extremos. Temos tecnologias alternativas à torto e à direito, mas por interesses econômicos os mesmos não são implantados. Ou o são em pequenas escalas.
Vale ressaltar que preservar 'Gaia' é um questão de sobrevivência própria. À nível filosófico (e mitológico?) podemos nos lembrar da imortalidade da deusa. Nosso planeta já passou por extremos climáticos antes, especies e mais espécies foram extintas, outras vieram, mas o planeta sobreviveu.
Numa guerra entre Gaia e a humanidade, a humanidade é que sai perdendo - como Saruman, derrotado pelos Ents 
Mas é claro, é difícil se preocupar com algo que só nos trará consequências em gerações futuras.

No neopaganismo, nas crenças animistas, é compreensível e encorajado um pensamento ecológico. Não estou escrevendo este texto para criar uma grande milicia pagã, extremista, pegando em armas para defender o corpo de nossos deuses (o que não é uma má ideia kk). Escrevo este texto para ressaltar a importância do equilíbrio e o perigo dos extremismos.
E, acima de tudo, gostaria de iniciar o assunto das dualidades com um exemplo prático e cotidiano.
Falarei mais sobre o assunto na segunda parte da postagem, quando falarei de Hermes

- "Perai, você escrever essa loucura toda, falou de filmes, Hellboy, Senhor dos Aneis, ecologia...pra falar de HERMES?"
- Sim! Calma que vocês vão entender... (eu acho!...espero...ah, sei lá!)




Referências Bibliográficas: 
LOVELOCK, James. As eras de Gaia - pg. 17
[1] Do Paisagismo ao Desenho Ambiental - Este é um livro feito a partir de uma tese de doutorado. Ele me foi emprestado pela minha professora de Paisagismo, eu destaquei algumas citações, mas esqueci de anotar o nome do autor. Se alguem conhecer, por favor, diga nos comentários.


HEKATOR (Thiago Souza) estudante de arquitetura e urbanismo na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Me identifico como pagão e bruxo. Não espere que eu numero titulos e iniciações, sou, e sempre serei, apenas um mero estudante. Adoro o tarô. Sou absurdamente frustrado no campo da projeção astral. Me irrito com facilidade quando vejo esquisotéricos palestrando suas besteiras.Cultuo unicamente o panteão grego, mas sou apaixonado por todo tipo de mitologia pagã. Até gostaria de falar mais sobre, mas sou absurdamente péssimo em me definir e me descrever.

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